Missões: a prioridade de Deus
Lucas relata que Jesus, depois de
ressuscitar, reuniu seus discípulos e falou-lhes duas coisas. A primeira foi
que o Antigo Testamento ensinava claramente que o Messias tinha de morrer e
ressuscitar. Em seguida, acrescentou que o evangelho seria pregado a todas as
nações.
O ensino que Jesus transmitiu aos discípulos
após a ressurreição deve ter sido uma novidade para eles, mas estava claramente
expresso no texto sagrado. Veja como Jesus falou: “Está escrito que o Cristo
havia de padecer e ressuscitar dentre os mortos no terceiro dia e que em seu
nome se pregasse arrependimento para remissão de pecados a todas as nações,
começando de Jerusalém” (Lc 24.46,47).
A ordem de fazer missões é muito clara no Novo
Testamento, porém Jesus buscou no Antigo Testamento a base para essa
declaração. Se lermos a Bíblia toda sem observar sua ênfase sobre missões,
provavelmente a estamos lendo superfi cialmente, como eu lia o Antigo
Testamento, sem notar a centralidade do plano de Deus para as nações. Agora
penso de modo diferente. Foi uma mudança de paradigma para mim!
Leiamos alguns textos que Jesus poderia ter
usado para comprovar que a tarefa de levar o evangelho a todas as criaturas,
nações, línguas e povos não era uma novidade do primeiro século. Ela começou no
coração de Deus e foi anunciada inicialmente no Antigo Testamento.
A finalidade da criação
O Antigo Testamento começa com a criação de tudo que existe. No centro de seu plano, Deus criou o homem — e todos nós — à sua imagem, por várias razões. O próprio Universo não existiu eternamente. Deus o criou com um propósito. O Universo teve início num momento da História — “no princípio” — e terminará no fi m da História, após a segunda vinda de Cristo. Por que Deus decidiu fazer tudo que fez? Os cientistas ateus pesquisam a criação. Descobrem os segredos da natureza e como funcionam os processos e leis naturais, mas lamentam não saber a razão por que existe qualquer coisa, porém nós, cristãos, sabemos os motivos de o Universo e o homem existirem. Citaremos apenas cinco deles.
O Antigo Testamento começa com a criação de tudo que existe. No centro de seu plano, Deus criou o homem — e todos nós — à sua imagem, por várias razões. O próprio Universo não existiu eternamente. Deus o criou com um propósito. O Universo teve início num momento da História — “no princípio” — e terminará no fi m da História, após a segunda vinda de Cristo. Por que Deus decidiu fazer tudo que fez? Os cientistas ateus pesquisam a criação. Descobrem os segredos da natureza e como funcionam os processos e leis naturais, mas lamentam não saber a razão por que existe qualquer coisa, porém nós, cristãos, sabemos os motivos de o Universo e o homem existirem. Citaremos apenas cinco deles.
Primeiro motivo da criação
O primeiro motivo da criação foi o desejo de Deus de ter pessoas com quem pudesse desfrutar comunhão. Deus é social. Ele ama pessoas como nós — gente. Gente que conversa com ele. Ele queria alguém com quem pudesse conversar e de quem recebesse adoração. Por isso, criou-nos à sua imagem, para ter um relacionamento amoroso conosco. Isso se encaixa estreitamente na tarefa missionária. O propósito das missões tem seu fundamento nesse desejo de Deus. Cada pessoa que se converte hoje terá comunhão com ele eternamente.
O primeiro motivo da criação foi o desejo de Deus de ter pessoas com quem pudesse desfrutar comunhão. Deus é social. Ele ama pessoas como nós — gente. Gente que conversa com ele. Ele queria alguém com quem pudesse conversar e de quem recebesse adoração. Por isso, criou-nos à sua imagem, para ter um relacionamento amoroso conosco. Isso se encaixa estreitamente na tarefa missionária. O propósito das missões tem seu fundamento nesse desejo de Deus. Cada pessoa que se converte hoje terá comunhão com ele eternamente.
Segundo motivo da Criação
Deus é um Deus feliz. Deduzimos isso de uma frase de 1Timóteo 1.11, “o evangelho da glória do Deus bendito”. A palavra “bendito” (makârios, no grego) quer dizer “feliz” (compare com as bem-aventuranças). Ele queria compartilhar sua felicidade com o ser humano. As pessoas mais felizes da terra devem ser os missionários. Com certeza, divulgar as boas novas, obedecer à última ordem de Cristo, levar pessoas a conhecê-lo e, por conseguinte, poder entrar no gozo do Senhor é um trabalho glorioso e tem relação direta com o motivo de Deus ter criado a humanidade.
Deus é um Deus feliz. Deduzimos isso de uma frase de 1Timóteo 1.11, “o evangelho da glória do Deus bendito”. A palavra “bendito” (makârios, no grego) quer dizer “feliz” (compare com as bem-aventuranças). Ele queria compartilhar sua felicidade com o ser humano. As pessoas mais felizes da terra devem ser os missionários. Com certeza, divulgar as boas novas, obedecer à última ordem de Cristo, levar pessoas a conhecê-lo e, por conseguinte, poder entrar no gozo do Senhor é um trabalho glorioso e tem relação direta com o motivo de Deus ter criado a humanidade.
Terceiro motivo da criação
Deus nos criou para mostrar seu amor. Ele já amava o Filho, e o Filho amava o Pai, mas queriam um povo para demonstrar seu amor. Ele multiplicou a população da terra para revelar seu infinito amor. Ele derramou seu amor em nosso coração para que possamos também amar aqueles que Deus ama. Se você não é missionário, no sentido mais lato da palavra, talvez o amor de Deus tenha sido sufocado em sua vida. Não entrou na sua veia nem nas suas artérias, por isso não circula em seu coração o desejo de alcançar os perdidos. Deus criou homens e mulheres para compartilhar sua felicidade e demonstrar seu amor. Devemos responder e corresponder ao seu amor com
grata obediência.
Deus nos criou para mostrar seu amor. Ele já amava o Filho, e o Filho amava o Pai, mas queriam um povo para demonstrar seu amor. Ele multiplicou a população da terra para revelar seu infinito amor. Ele derramou seu amor em nosso coração para que possamos também amar aqueles que Deus ama. Se você não é missionário, no sentido mais lato da palavra, talvez o amor de Deus tenha sido sufocado em sua vida. Não entrou na sua veia nem nas suas artérias, por isso não circula em seu coração o desejo de alcançar os perdidos. Deus criou homens e mulheres para compartilhar sua felicidade e demonstrar seu amor. Devemos responder e corresponder ao seu amor com
grata obediência.
Quarto moti vo da criação
Deus criou o mundo para ser glorificado por meio dele. Ele criou o ser humano à sua imagem para que este pudesse glorifi cá-lo por causa de sua graça. Efésios 1.6 é uma passagem fundamental das Escrituras porque explica o motivo pelo qual Deus nos criou. Considere seriamente que, tanto a eleição antes da fundação do mundo quanto a predestinação para sermos filhos adotivos, aconteceu, segundo esse texto, “para louvor da glória de sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente no Amado”. Não é possível negar, à luz dessa passagem, que o propósito original no plano da criação foi que pessoas inteligentes e dotadas de emoção louvassem a graça gloriosa de Deus. Esse é o principal motivo das missões. Paulo escreveu aos coríntios:
“Todas as coisas [os sofrimentos] existem por amor de vós, para que a graça, multiplicando-se, torne abundantes as ações de graças por meio de muitos, para glória de Deus” (2Co 4.15).
Deus criou o mundo para ser glorificado por meio dele. Ele criou o ser humano à sua imagem para que este pudesse glorifi cá-lo por causa de sua graça. Efésios 1.6 é uma passagem fundamental das Escrituras porque explica o motivo pelo qual Deus nos criou. Considere seriamente que, tanto a eleição antes da fundação do mundo quanto a predestinação para sermos filhos adotivos, aconteceu, segundo esse texto, “para louvor da glória de sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente no Amado”. Não é possível negar, à luz dessa passagem, que o propósito original no plano da criação foi que pessoas inteligentes e dotadas de emoção louvassem a graça gloriosa de Deus. Esse é o principal motivo das missões. Paulo escreveu aos coríntios:
“Todas as coisas [os sofrimentos] existem por amor de vós, para que a graça, multiplicando-se, torne abundantes as ações de graças por meio de muitos, para glória de Deus” (2Co 4.15).
Quinto motivo da criação
Deus criou o homem para compartilhar com ele sua santidade. “Sereis santos, porque eu sou santo” (Lv 11.44). Ele não admitirá pecadores rebeldes no lar celestial. Por isso, nos manda aumentar a santidade no mundo e multiplicar o número de “santos” na terra. Um dos títulos do povo de Deus é “nação santa” (Êx 19.6), confi rmando que, se Deus tem filhos na terra inseridos em sua Igreja, eles serão marcados pela santidade do “Pai” celestial.
Deus criou o homem para compartilhar com ele sua santidade. “Sereis santos, porque eu sou santo” (Lv 11.44). Ele não admitirá pecadores rebeldes no lar celestial. Por isso, nos manda aumentar a santidade no mundo e multiplicar o número de “santos” na terra. Um dos títulos do povo de Deus é “nação santa” (Êx 19.6), confi rmando que, se Deus tem filhos na terra inseridos em sua Igreja, eles serão marcados pela santidade do “Pai” celestial.
O coração missionário de Deus revelado no Antigo
Testamento
Examinemos alguns textos-chave da Bíblia para buscar as bases para missões e o propósito divino para a humanidade.
Examinemos alguns textos-chave da Bíblia para buscar as bases para missões e o propósito divino para a humanidade.
Gênesis 12.1-3
Esta passagem central no Antigo Testamento apresenta a chamada de Abraão, nosso pai na fé e tem importantes implicações para a obra missionária:
Esta passagem central no Antigo Testamento apresenta a chamada de Abraão, nosso pai na fé e tem importantes implicações para a obra missionária:
Disse o Senhor a Abrão: Sai da tua terra, da tua
parentela e da casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei; de ti farei
uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção!
Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti
serão benditas todas as
famílias da terra.
famílias da terra.
Nesta passagem, que Jesus deve ter mencionado
aos seus discípulos, temos uma dupla ordem: “Sai da tua terra” e “Sê tu uma
bênção”. Abraão deveria sair para ser uma bênção e ser abençoado. Nele o mundo
inteiro — todos os lugares, tribos, povos e nações — seriam abençoados. Cremos
na Palavra de Deus e que essa promessa, ainda não concretizada inteiramente,
irá se cumprir.
Existe algo mais interessante nesse texto.
Qualquer contador, ou pessoa que trabalha com números, sabe que a soma de todas
aquelas fileiras de cifras depende dos números que estão em cima. Ele sabe que
se houver um erro em alguma dessas cifras, haverá um resultado errado na última
linha. Esse princípio da matemática pode ilustrar e explicar por que o
compromisso das igrejas com as missões é tão fraco.
O Brasil evangélico, até agora, enviou um número
quase inexpressivo de missionários. Há menos de um missionário para cada 10 mil
crentes. Estou convencido de que essa desproporção tem uma explicação razoável.
Vejamos como se aplica à tarefa missionária. Como já vimos, se escrevemos
números errados nas linhas de cima, a soma estará errada.
A passagem de Gênesis contém a promessa de que
Deus há de abençoar a Abraão. Todos querem as bênçãos de Deus. Corresponde à
linha de cima o “abençoarei”, mas se entendemos mal a linha de cima, a linha de
baixo — “Sê tu uma bênção” para todas as nações (famílias) da terra — sairá
errada. A bênção da promessa está diretamente ligada à obediência à ordem de
ser uma bênção. Não dá certo buscar a bênção sem querer ser uma bênção.
Todas as nações receberão as bênçãos prometidas a Abraão. A Palavra de Deus não pode falhar, mas primeiro é essencial que Abraão e seus descendentes pela fé sejam uma bênção. É inútil reivindicar bênçãos se não estamos abençoando os perdidos com a oferta do evangelho.
Todas as nações receberão as bênçãos prometidas a Abraão. A Palavra de Deus não pode falhar, mas primeiro é essencial que Abraão e seus descendentes pela fé sejam uma bênção. É inútil reivindicar bênçãos se não estamos abençoando os perdidos com a oferta do evangelho.
Receber benefícios da parte de Deus corresponde
à linha de cima. Transmitir esses benefícios para os que não têm acesso à
bênção abraâmica está diretamente vinculado às bênçãos recebidas. A bênção da
salvação, a linha de cima, implica a responsabilidade de ser uma bênção, de
compartilhar essa salvação com os que não têm acesso ao evangelho.
Gênesis 50.15-21
A história de José, em Gênesis 50, revela o mesmo princípio. Seus irmãos estavam preocupados com o fato de que José, agora exaltado com plenos poderes no Egito, retribuísse o mal que sofreu.
A história de José, em Gênesis 50, revela o mesmo princípio. Seus irmãos estavam preocupados com o fato de que José, agora exaltado com plenos poderes no Egito, retribuísse o mal que sofreu.
Vendo os irmãos de José que seu pai já era morto, disseram:
É o caso de José nos perseguir e nos retribuir certamente o mal todo que lhe fi
zemos. Portanto, mandaram dizer a José: Teu pai ordenou, antes da sua morte,
dizendo: Assim direis a José: Perdoa, pois, a transgressão de teus irmãos e o
seu pecado, porque te fizeram mal; agora, pois, te rogamos que perdoes a
transgressão dos servos do Deus de teu pai. José chorou enquanto lhe falavam.
Depois, vieram também seus irmãos, prostraram-se diante dele e disseram:
Eis-nos aqui por teus servos. Respondeu-lhes José: Não temais; acaso, estou eu
em lugar de Deus? Vós, na verdade, intentastes o mal contra mim; porém Deus o
tornou em bem, para fazer, como vedes agora, que se conserve muita gente em
vida.Não temais, pois; eu vos sustentarei a vós outros e a vossos fi lhos.
Assim, os consolou e lhes falou ao coraç;ão.
Está bem claro no texto que a bênção na vida de
José, depois de muitas maldições, não deveria ser limitada a ele próprio. A
grande bênção que recebeu (a linha de cima) teria de implicar a bênção de sua família
e muitos milhares
de vidas salvas. A revelação que José recebeu sobre os anos de prosperidade e sobre a fome no Egito mostrou que Deus tinha um propósito central para sua vida. Deus o abençoou para que ele pudesse abençoar outras pessoas. A linha de cima — os benefícios recebidos — implica a linha de baixo — a concessão de benefícios aos que não os possuem.
de vidas salvas. A revelação que José recebeu sobre os anos de prosperidade e sobre a fome no Egito mostrou que Deus tinha um propósito central para sua vida. Deus o abençoou para que ele pudesse abençoar outras pessoas. A linha de cima — os benefícios recebidos — implica a linha de baixo — a concessão de benefícios aos que não os possuem.
Deus nos revelou algo muito mais precioso, uma
revelação mais importante que a recebida por José. A questão é: por que Deus
tem abençoado a sua vida? A razão bíblica é a preservação de vidas para a
eternidade na gloriosa presença de Deus. Se nos interessamos apenas em receber
a bênção da salvação, sem passá-la adiante, estamos contrariando o propósito de
Deus. Desprezamos a prioridade divina.
Deuteronômio 4.5-8
Aqui Moisés mostra também as duas linhas, as bênçãos decorrentes de ser o povo escolhido e a responsabilidade de abençoar as nações:
Aqui Moisés mostra também as duas linhas, as bênçãos decorrentes de ser o povo escolhido e a responsabilidade de abençoar as nações:
Eis que vos tenho ensinado estatutos e juízos, como me
mandou o Senhor, meu Deus, para que assim façais no meio da terra que passais a
possuir. Guardai-os, pois, e cumpri-os, porque isto será a vossa sabedoria e o
vosso entendimento perante os olhos dos povos que, ouvindo todos estes
estatutos, dirão: Certamente, este grande povo é gente sábia e inteligente.
Pois que grande nação há que tenha deuses tão chegados a si como o Senhor,
nosso Deus, todas as vezes que o invocamos? E que grande nação há que tenha
estatutos e juízos tão justos como toda esta lei que eu hoje vos proponho?
Imagine se o Brasil estivesse na posição de
Israel prevista nesse momento histórico. Se as leis escritas e assinadas pelo
presidente fossem leis criadas na mente de Deus e passadas diretamente aos
deputados em Brasília, como o país estaria bem! Imagine se o Brasil, como o
Israel antigo, em vez de pensar em problemas e dívidas internacionais, pudesse
dobrar os joelhos e usufruir a bênção notável de empregos para todos, de
estarem os meninos de rua recebendo o devido cuidado. Imagine a bênção de saber
que os órfãos estão sendo nutridos com as verdades de Deus. Imagine um Brasil
que não precisasse cuidar de suas fronteiras nem combater o tráfico de drogas.
Pense em ter Deus tão próximo a proteger a nação: não seria preciso gastar
dinheiro com o Exército e nem com policiais.
Leis falhas e interesseiras, feitas por homens,
seriam substituídas por leis divinas e perfeitas. Beneficiado por essas leis e
pela proteção divina nas crises, em resposta às orações do povo de Deus, o
Brasil seria um país invejável. Foram essas bênçãos, segundo o texto de
Deuteronômio, que Deus ofereceu a Israel.
Qual seria o efeito dessas bênçãos (a linha de
cima) sobre os países vizinhos? O próprio texto responde. Seria um forte efeito
missionário com seus benefícios. As nações vizinhas buscariam ao Senhor e
seguiriam suas leis (a linha de baixo). Aprenderiam a viver bem imitando o
Brasil e obedecendo às leis criadas no céu. Buscariam ao Deus único e ao seu
Reino para obter as bênçãos desfrutadas pelo Brasil.
Vejo um país que tem grande interesse em ser um
país evangélico. Existem até previsões de que em poucos anos o Brasil será do
Senhor, mesmo antes de sua vinda. Não sei se podemos realmente esperar uma
bênção tão grandiosa, mas se acontecer não será surpresa se os países vizinhos
vierem buscar a mesma bênção (a linha de baixo).
Houve uma época em que um país foi
extraordinariamente abençoado. Esse país foi fundado no século XVII. Os
fundadores fugiram da Inglaterra para estabelecer uma nação em que Deus seria
honrado e haveria liberdade de consciência. As bênçãos de Deus caíram sobre os
Estados Unidos. Houve um tempo em que as crianças podiam sair de casa sem
perigo. Não havia meninos de rua. As chaves ficavam dentro do carro, sem que
fosse preciso trancar as portas.
As casas fi cavam abertas sem muros ou sistemas
de alarme. Não se pensava em violência nem se falava em drogas. Homicídio era
uma raridade. Hoje não é mais assim. Esse país mudou, depois que abandonou a
maioria dos princípios que garantem a bênção. A preocupação com a evangelização
de todos os povos diminuiu.
Quando Jimmy Carter estava na presidência, um
amigo foi convidado para falar num congresso de missões nos Estados Unidos da
América. Cerca de 4 mil pessoas esperavam atentas a palavra do pastor Greg
Livingstone (hoje diretor de uma missão no norte da África).
Concederam-lhe um minuto para falar. Ele foi à
frente e fez a seguinte pergunta: “Quantos de vocês estão orando pela
libertação dos 52 americanos sequestrados no Irã?”. Os mais velhos lembram-se
da grande preocupação causada pelo sequestro daqueles americanos. Quase todas
as mãos se levantaram no auditório, indicando a preocupação generalizada. Em
seguida, fez outra pergunta: “Quantos estão orando pela libertação de 52
milhões de iranianos das algemas de Satanás?”. Os braços foram abaixando até não
restar mais que um ou dois em toda aquela multidão. Meu amigo sentou-se, sem
utilizar todo o seu minuto, dizendo: “Percebo que vocês são mais americanos que
cristãos!”. Ficou claro que ele falava das duas linhas.
Aqueles milhares de pessoas preocupavam-se
apenas com a linha de cima. Sabiam de quem e em que nome podiam pedir a
libertação dos sequestrados, mas não tiveram a preocupação de pedir a
libertação de 52 milhões de seres humanos algemados espiritualmente.
Quero deixar assentado, primeiramente em meu
coração, depois no do leitor, que a linha de baixo depende de entendermos a
razão pela qual Deus abençoa nossa vida. Se não recebi bênção alguma, tudo bem.
Se não ganhei nada de Deus, ele não cobrará nada de mim. No entanto, se Deus
tem nos abençoado de alguma maneira especial e se ele nos tem dado conhecimento
da verdade de sua Palavra, com o resultado de que podemos viver e morrer
felizes, temos de levar a sério a linha de baixo.
Salmo 67.1,2
Mais um texto confirma a tese desta mensagem. O salmo 67 mostra as duas linhas de maneira notável. Quantos se esqueceram de orar hoje? Quantos têm coragem de admitir isso? Provavelmente, a maioria orou. E quem não pediu qualquer bênção? Sabemos que é raríssimo orar sem pedir pelo menos uma bênção.
Mais um texto confirma a tese desta mensagem. O salmo 67 mostra as duas linhas de maneira notável. Quantos se esqueceram de orar hoje? Quantos têm coragem de admitir isso? Provavelmente, a maioria orou. E quem não pediu qualquer bênção? Sabemos que é raríssimo orar sem pedir pelo menos uma bênção.
Animou-me bastante notar que em Salmos 67.1,2,
Deus não condena a prática de pedir bênçãos. Esse salmo fala de bênçãos, mas
não exatamente de prosperidade:
Seja Deus gracioso para conosco, e nos abençoe, e faça
resplandecer sobre nós o rosto; para que se conheça na terra o teu caminho e,
em todas as nações, a tua salvação.
Meditando, perguntei para mim mesmo o que teria
acontecido se a nação israelita, receptora original dessas palavras inspiradas,
tivesse dado prioridade a esse texto. Como seria diferente a história da humanidade
se Israel tivesse dado valor à linha de baixo e estabelecido como o mais
importante alvo de sua existência abençoar a todos os árabes! O mundo tem mais
de um bilhão de muçulmanos. Israel é apenas uma pequena ilha num oceano inimigo
de muçulmanos.
Se, em vez de se preocupar com a própria
segurança, Israel tivesse pedido a bênção de Deus para os muçulmanos, a fim de
que conhecessem os caminhos do Senhor, como seria diferente a história atual!
Provavelmente, milhares de pessoas estariam vivas, e famílias inteiras, ainda
unidas. As torres gêmeas não teriam caído em Nova York, soterrando quase 3 mil
pessoas.
Quase todos os dias morrem vítimas do ódio em
Israel. Parece que Israel formou sua nação para buscar a própria segurança, em
vez de abençoar os povos vizinhos. Não é meu propósito lançar críticas contra
ninguém, mas esse salmo não deixa dúvidas quanto ao propósito de Deus. Paremos
um instante para refl etir. Qual é minha preocupação maior na vida? A resposta
de todos nós é a mesma. Ser abençoado por Deus. Quero que ele abençoe minha
família, os filhos, os netos, a esposa, o trabalho, a situação financeira. É
isso o que mais importa. E Deus não despreza tais petições, porém não estaremos
glorificando a Deus se dermos prioridade à linha de cima e ignorarmos a linha
de baixo.
Jesus, pouco antes de sua exaltação, declarou
aos discípulos que a bênção de os povos gentios conhecerem os caminhos do
Senhor deve ser o foco de seu ministério. Em Jerusalém, na Judeia, em Samaria e
até os confins da terra, eles seriam testemunhas da graça de Deus que salva.
Quero encerrar afirmando algo sobre nossa nação. Os irmãos sabem que a teologia
predominante no Brasil é a chamada “teologia da prosperidade”. É quase certo
que o pregador que conseguir convencer brasileiros — evangélicos, católicos,
espíritas e mesmo pessoas sem religião — de que possui poder para liberar
bênçãos como saúde, emprego, salário maior e paz na família será
“bem-sucedido”. Quem promete abençoar o povo material e socialmente está
fadado ao “sucesso”. Contudo, quero enfatizar que é uma distorção do evangelho,
pois não há interesse prioritário na linha de baixo. As promessas da antiga
aliança, que abençoaram Israel materialmente, tinham o propósito de persuadir
os povos a adorar e obedecer a Deus na totalidade de sua existência.
Quais são as promessas da nova aliança? Cristo
voltará quando todas as nações tiverem ouvido que Cristo é o único caminho para
Deus. Ele é o único Salvador. O descaso para com a obrigação missionária, em
razão do interesse voltado para esta vida, demonstra pouco compromisso com a
vida vindoura. Não se fala muito sobre o investimento no
destino final.
destino final.
A busca pelo poder do Espírito como forma de
obter alívio, conforto e bem-estar, em vez de testemunho e proclamação, está em
desacordo com o propósito central de Deus. A teologia da prosperidade destaca o
ter, e não o ser. A lei da nova aliança deve ser interna. “Esta é a aliança que
firmarei com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o Senhor: Na mente,
lhes imprimirei as minhas leis, também no coração lhas inscreverei; eu serei o
seu Deus, e eles serão o meu povo” ( Jr 31.33). Não é a vontade de Deus que
busquemos os benefícios do Reino de Deus sem dar prioridade ao próprio Reino.
Os benefícios ilimitados de Deus virão no Milênio, mas poucos querem esperar um
futuro distante e pouco almejado.
O resultado dessa distorção pode ser percebido
no desinteresse em conhecer a Palavra de Deus. Há também quase nenhum interesse
pela exegese, pela hermenêutica, pelo discipulado e pelo estudo da Palavra.
Busca-se a experiência, e não o Senhor das experiências. Parece uma diferença
sutil, mas é importante. O Espírito Santo é apresentado mais como fonte de
poder que como pessoa divina que glorifica ao Senhor Jesus ( Jo 14.13). A
ênfase exagerada sobre o indivíduo desvia nossa atenção da comunhão e da
responsabilidade mútua da igreja (1Pe 2.9,10).
Não é certo omitir a ênfase sobre a obrigação e
destacar apenas a motivação do amor que produz a alegria no Senhor (1Co
13.1,4,5).
É muito comum omitir-se a proclamação da
teologia bíblica acerca do sofrimento. Nesse caso, onde se encaixaria a cruz de
Cristo ou as condições do discipulado? “Se alguém quer vir após mim, a si mesmo
se negue, tome a sua cruz [diariamente] e siga-me” são palavras pouco ouvidas,
mas foram pronunciadas por Jesus. Buscar os dons e manifestações do poder de
Deus em benefício próprio, e não em benefício do Corpo de Cristo é mais um
desvio do propósito bíblico revelado na Palavra. Todas essas aberrações e
distorções, até o ponto em que caracterizem a igreja brasileira, mostram
preocupação com a linha de cima, e não com a de baixo. Para o Brasil se tornar
um verdadeiro celeiro de missões, é necessário que haja uma mudança de
paradigma. Como Israel, no período do Antigo Testamento, teve a oportunidade de
influenciar o mundo ao seu redor em prol do Deus único, cumprindo suas leis e
demonstrando um amor profundo pelo Senhor, temos o desafio de realinhar nossas
prioridades. Se genuinamente nos preocuparmos com a linha de baixo, isto é, que
o evangelho seja proclamado e vivido entre todos os povos, a bênção gloriosa
cairá sobre nós. Paulo assim se refere a esse futuro: “Para mim tenho por certo
que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a
ser revelada em nós. A ardente expectativa da criação aguarda a revelação
dos filhos de Deus [...] para a liberdade da glória dos filhos de Deus” (Rm
8.18,19,21).
Artigo extraido do livro Perspectivas no Movimento Cristão Mundial.
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